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Uberlândia gera 20 mil toneladas de lixo por mês, mas recicla menos de 8% dos resíduos

Dados do Dmae mostram que 90% dos resíduos sólidos poderiam ser reaproveitados, mas a maior parte ainda vai para o aterro sanitário. Primeiro pátio de compo...

Uberlândia gera 20 mil toneladas de lixo por mês, mas recicla menos de 8% dos resíduos
Uberlândia gera 20 mil toneladas de lixo por mês, mas recicla menos de 8% dos resíduos (Foto: Reprodução)

Dados do Dmae mostram que 90% dos resíduos sólidos poderiam ser reaproveitados, mas a maior parte ainda vai para o aterro sanitário. Primeiro pátio de compostagem deve ser entregue neste ano. Pátio de compostagem está sendo construído em Uberlândia para reduzir lixo indo para o aterro sanitário Dmae/Divulgação Apesar de gerar, em média, quase 20 mil toneladas de lixo por mês, Uberlândia recicla apenas 7,98% dos materiais sólidos com potencial de reaproveitamento. Além disso, com a maior parte do lixo sendo destinada diretamente ao aterro sanitário, a compostagem atinge menos de 6% do que poderia ser realmente aproveitado (entenda mais abaixo sobre este tema). Dados disponibilizados pelo Departamento Municipal de Água e Esgoto (Dmae), por meio do Residuômetro, mostram que a cidade poderia compostar 55% do lixo orgânico recolhido e reciclar 32% dos recicláveis. Os percentuais, muito aquém do esperado, revelam uma realidade distante da gestão sustentável prevista na Política Nacional de Resíduos Sólidos. ➡️ Clique aqui e siga o perfil do g1 Triângulo no Instagram O coordenador de Gestão de Resíduos Sólidos do Dmae, Arthur Rosa Públio, garantiu que o Município trabalha para ampliar os serviços de coleta e reciclagem, com o objetivo de gerar um impacto ambiental mais positivo. No entanto, ressaltou que a conscientização precisa ser uma via de mão dupla. “A política nacional traz que o poder público deve instituir pelo menos as três frações, que são os recicláveis secos, os rejeitos e os orgânicos. Claro que existe um custo, mas estamos trabalhando para que a gente consiga gerar impacto. Nosso principal desafio é a adesão da população ao serviço. Para melhorarmos nossa coleta, é preciso que as pessoas se conscientizem, façam a separação do lixo e utilizem o serviço da forma adequada”, destacou. Neste Dia Mundial do Meio Ambiente, o g1 apresenta um panorama da reciclagem de resíduos sólidos em Uberlândia, os serviços disponíveis à população e os projetos em andamento para melhorar a destinação do lixo na cidade. Coleta seletiva em Uberlândia Desde 2011, a cidade conta com o serviço de coleta seletiva, que foi ampliado ao longo dos anos para os bairros. Atualmente, 90% do perímetro urbano recebe o 'ecocaminhão' pelo menos uma vez por semana, para recolher materiais recicláveis separados pelos moradores e colocados na porta de casa. As demais regiões, que ainda não recebem o serviço porta a porta, contam com ecopontos ou estações de entrega voluntária de resíduos. O Dmae, inclusive, disponibiliza um mapa de coleta seletiva com os endereços de todos os pontos de entrega de recicláveis ou de logística reversa (pilhas, baterias etc.). “Até o ano que vem, nós pretendemos expandir o porta a porta para 100% dos bairros. Enquanto isso, é possível agendar grandes volumes — por exemplo, um condomínio, uma empresa, uma instituição que gera um grande volume semanal — e o caminhão vai até lá buscar o material. Esses 10% que restam, que às vezes não conseguimos atender diretamente, podem ter a solução de ir até um ponto de entrega ou agendar a coleta quando houver grande volume”, comentou Arthur Rosa. Os principais recicláveis coletados em Uberlândia são: Papelão e vidro (mais de 30%) Garrafa PET, latinhas e plásticos em geral (com maior valor agregado) Para onde vai o lixo reciclável de Uberlândia? Após a coleta seletiva, os recicláveis são encaminhados para seis associações e uma cooperativa de recicladores parceiras da Prefeitura de Uberlândia. Essas entidades recebem do Município estrutura básica, como galpões e equipamentos, para realizar a triagem e destinação adequada dos resíduos. Veja abaixo quais são elas: Associações de reciclagem em Uberlândia “Se nós fizéssemos a coleta seletiva, a reciclagem correta, nós estaríamos injetando a economia local. É uma transição de economia linear, para uma economia circular. Reciclando, a gente consegue gerar trabalho [aos catadores], e renda para muito mais pessoas, do que somente aterrando o material”, pontuou o coordenador do Dmae. Reciclagem garante sustento de famílias de catadores em Uberlândia Cooperativa dos Recicladores de Uberlândia/Divulgação Pontos de coleta para vidros Há em andamento um projeto para criar pontos de coleta voluntária de vidros em toda a cidade, que deve sair do papel até o próximo ano. “Var gerar trabalho para os catadores e também prevenir os garis de acidentes. Os coletores sofrem muitos acidentes com vidro quebrado, com vidros em geral. Então, é uma forma também de a gente prevenir e se sensibilizar com essa causa social e preservar os coletores de lixo”, comentou Arthur. Coleta seletiva é feita pelo 'ecocaminhão' em 90% dos bairros de Uberlândia Prefeitura de Uberlândia/Divulgação Compostagem em Uberlândia Embora a coleta seletiva atenda quase toda a população de Uberlândia, o aproveitamento dos resíduos orgânicos ainda é limitado, com apenas algumas iniciativas pontuais de compostagem. Rosa explicou que, no contexto domiciliar, 53% dos resíduos gerados são orgânicos, o que indica a necessidade de práticas como a compostagem doméstica ou institucional. Além disso, 5% dos resíduos se enquadram na categoria de logística reversa, enquanto apenas 10% deveriam, de fato, ser destinados ao aterro sanitário. É o caso do lixo de banheiro, que está contaminado e não pode ser reciclado. A Política Nacional de Resíduos Sólidos também prevê a implantação de sistemas de compostagem para resíduos sólidos orgânicos. 🔎 A compostagem é o processo de reciclagem de resíduos orgânicos, transformando-os em um composto rico em nutrientes que pode substituir fertilizantes químicos em hortas, jardins e plantações. Entre os principais benefícios estão a redução de resíduos enviados aos aterros sanitários e o combate ao aquecimento global, ao diminuir a emissão de gases como o metano. A boa notícia é que já está em construção na cidade o primeiro pátio de compostagem, com mais de 1.765,30 m² de área. A estrutura funcionará na Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) Uberabinha e deve ser inaugurada até o fim do ano. Segundo o Dmae, o pátio terá capacidade para processar 120 toneladas de resíduos orgânicos por mês. Exemplo dentro de casa Arthur informou que o Dmae implantou a compostagem de seus próprios resíduos orgânicos na sede administrativa da autarquia, na Avenida Rondon Pacheco. Com isso, cerca de 60% do que é descartado internamente deixa de ir para o aterro sanitário. Também foram instaladas composteiras em mais de 20 escolas municipais da cidade. A iniciativa tem o objetivo de incorporar a prática da compostagem no ambiente educacional, criando exemplos práticos para os alunos e estimulando o hábito sustentável dentro das famílias e da comunidade escolar. Oficina de compostagem Além disso, o Dmae também promove oficinas gratuitas para incentivar a compostagem doméstica. Os participantes aprendem a montar e manter as próprias composteiras e recebem o equipamento pronto para uso em casa. Duas novas oficinas estão previstas para este ano. 🔌Lixo transformado em energia limpa Apesar de o aterro sanitário ainda ser a principal forma para destinação do lixo em Uberlândia, desde 2012, o local conta com uma planta de captação e queima de gás metano para a geração de energia elétrica. O processo começa com a decomposição do lixo domiciliar coletado, que gera metano. Esse biogás é então captado e direcionado a uma planta de queima controlada, onde é convertido em eletricidade. Além de evitar a liberação de gases de efeito estufa, o projeto gera energia limpa e comercializa créditos de carbono. 🔎 O mercado de créditos de carbono é um sistema de incentivo a tecnologias limpas que permite a empresas e gestores públicos compensarem as emissões de gases de efeito estufa comprando créditos gerados por projetos sustentáveis. Cada crédito representa uma tonelada de CO₂ que deixou de ser emitida. Atualmente, o sistema opera com quatro geradores, com capacidade de produção de até 5 megawatts-hora (MW/h), energia suficiente para abastecer cerca de 11.544 pessoas. A operação é conduzida pela empresa Energas, do grupo italiano Asja, em parceria com a Limpebrás, concessionária responsável pela gestão do aterro desde 2008. Até o momento, já foram negociadas 1.239.555 toneladas de CO₂, resultando em mais de R$ 21,6 milhões em créditos. Somente em 2024, a tecnologia evitou a emissão de 112.583 toneladas de CO₂, o que equivale, segundo o Dmae, ao plantio de mais de 788 mil árvores. LEIA TAMBÉM: Quase 50 toneladas de lixo eletrônico são descartadas todo mês em Uberlândia; saiba como fazer o processo de forma correta Moradores de Uberlândia podem solicitar serviço de coleta seletiva de lixo em condomínios ♻️Conscientizar para reciclar Com ações educativas mais pontuais e práticas, o núcleo de coleta seletiva em Uberlândia atua com visitas porta a porta, ações em escolas, instituições e empresas. Conforme informado pelo coordenador de Gestão de Resíduos, o núcleo atende de 10 a 15 mil pessoas por ano. O Programa Escola Água Cidadã é outra iniciativa para conscientizar a população sobre a importância da reciclagem. O programa atua com foco na conscientização sobre o uso racional da água, reciclagem e descarte correto de resíduos. Voltado principalmente ao público escolar, mas também aberto a outros segmentos da população, o programa alcança entre 40 a 45 mil pessoas por ano. Desde a criação, já impactou mais de 450 mil pessoas, promovendo a formação de cidadãos mais conscientes e ambientalmente responsáveis. Mas mais do que trabalhar educação ambiental, é preciso também pensar em políticas públicas que efetivem as práticas sustentáveis. Nesse contexto, o biólogo Gustavo Malacco defende a utilização de instrumentos econômicos para que o poder público possa incentivar a comunidade a reciclar o próprio lixo. “Você poderia, por exemplo, ter uma redução do seu IPTU ou algum outro imposto municipal, se você demonstrar que tem práticas para reduzir o resíduo orgânico. E ainda, dependendo do tipo de porte de indústria ou empresa, [o Município] ter o controle disso, para que se diminua esse quilo per capita que chega ao aterro sanitário”, sugeriu o ambientalista. Em 2024, cada habitante de Uberlândia gerou, em média, 0,922 kg de lixo por dia. Primeiro pátio de compostagem de Uberlândia deve ser entregue ainda neste ano Dmae/Divulgação Coleta seletiva será ampliada para distritos de Uberlândia 📲 Siga o g1 Triângulo no WhatsApp, Facebook e X VÍDEOS: veja tudo sobre o Triângulo, Alto Paranaíba e Noroeste de Minas